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terça-feira, novembro 30, 2010

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sábado, setembro 16, 2006

Dicas úteis para uma vida fútil

Dicas úteis para uma vida fútil - um manual para a maldita raça humana
Mark Twain
Relume Dumará
Tradução de Beatriz Horta
224 páginas
R$ 39,90


Quanto melhor o livro, mais complicado escrever sobre ele. Não sei se com os críticos é assim, mas comigo, mero "recomendador" de livros, é.

A responsabilidade é maior, creio eu. Um texto mal escrito pode espantar leitores, ao invés de fazer com que eles procurem a obra, se interessem por ela. Afinal, é essa a intenção de uma resenha: fazer com que o leitor procure o tal livro, folheie-o em alguma livraria, busque informações na internet, procure um amigo que o tenha para emprestar.

(Se seu amigo for como eu, desista. Ele inventará mil motivos para não emprestar o livro).

Ainda mais se ele for "Dicas úteis para uma vida fútil" (Relume Dumará, 224 págs.), de Mark Twain. Com o subtítulo de "um manual para a maldita raça humana", é um livro imperdível.

Poucos livros me impressionaram pelo projeto gráfico. Antes desse, só "O amor esquece de começar", do Fabrício Carpinejar. Mas a Relume Dumará realmente teve um cuidado especial com esta obra de Twain. Acho que é o livro mais bonito que tenho. Além de ser muito bem acabado. Nota-se que houve um enorme cuidado em sua edição. A capa é muito bonita, e o livro é recheado de fotos de Mark Twain, além de fac-símiles de manuscritos do autor e de páginas de jornais nos quais saíram seus textos.

Pegando o gancho, os textos reunidos em "Dicas úteis para uma vida fútil" são cartas, trechos de discursos de Mark Twain e escritos autobiográficos, como diz a orelha, e que eu prefiro chamar de crônicas. São textos inéditos ou que estavam fora de catálogo há décadas.

Alguns deles são curtos, e posso até transcrever um inteiro aqui, como aperitivo:

"Desejo de Natal (publicado no New York World em 1890)
Ao editor do The World:
Meus calorosos votos e imensas esperanças natalinas de que todos nós (os da alta, os da baixa, os ricos, os pobres, os admirados, os desprezados, os amados, os odiados, os civilizados, os selvagens) possamos nos reunir em eterna paz e felicidade (exceto o sujeito que inventou o telefone).
Mark Twain
Hartford, 23 de dezembro."


Em todos os textos há, no mínimo, a informação do ano em que ele foi publicado. Alguns têm a data exata, outros vêm acompanhados de uma pequena introdução, explicando como surgiu o tal escrito.

Mark Twain, ou Samuel Langhorne Clemens – seu nome de registro – não teve uma vida fácil – ficamos sabendo disso na introdução do livro. Mas nem por isso deixou de ser um homem bem humorado. Como quando dá dicas de como se comportar em um velório ("Não leve seu cachorro"), ou quando debocha de Benjamin Franklin (para depois se render a seus ensinamentos, que são passados de geração para geração nos Estados Unidos) e quando deixa um aviso ao próximo ladrão que tentar roubar sua casa, dizendo que "esta casa só tem baixelas de alumínio, agora e sempre" e pede "Por favor, feche a porta ao sair."

Eu, que ainda não tinha lido nada de Mark Twain, me diverti bastante com as palavras deste que é "a mais conhecida voz literária americana no mundo".


Rafael Rodrigues

Eric Clapton e J.J. Cale anunciam disco em parceria

DICAS CULTURAIS


Os guitarristas Eric Clapton e J.J. Cale lançarão em 7 de novembro "The Road To Escondido", o primeiro disco produzido e realizado em parceria entre os dois.

"Este é o resultado de uma das minhas grandes ambições, que é trabalhar com o homem cuja música me inspirou desde que consigo me lembrar", assegurou Clapton em comunicado.

O disco, cujo primeiro single, "Ride the River", começará a tocar nas rádios de todo o mundo dentro de duas semanas, contará com 14 músicas, 11 delas compostas por Cale.

Dez discos para ouvir na temporada, segundo o Guardian

DICAS CULTURAIS


O jornal inglês separou dez discos que valem a pena ser ouvidos durante o outono por lá (a nossa primavera). São lançamentos recentes e álbuns que estão no forno. Será que o jornal está certo? Só o futuro dirá. Eu aposto muito nos de Tom Waits, Beck, Jarvis Cocker e Joanna Newsom. E tenho muita desconfiança de um novo disco de estúdio do The Who e, em geral, do som do Killers. E já não gostei do Scissor Sisters. Mesmo assim, vale dar uma olhada na lista:

01. Back to Black, Amy Winehouse
02. Someone to Drive You Home, The Long Blondes
03. Ta-Dah, Scissor Sisters
04. Orphans, Tom Waits
05. Sam's Town, The Killers
06. Ys, Joanna Newsom (foto)
07. Title tbc, Jarvis Cocker
08. Food & Liquor, Lupe Fiasco
09. Endless Wire, The Who
10. The Information, Beck

Para ler a reportagem em que os próprios artistas opinam sobre seus discos, clique aqui.

Guilherme Werneck

sábado, setembro 09, 2006

Pergunte ao Pó

Pergunte ao Pó
John Fante
José Olympio Editora
Tradução de Roberto Muggiati
208 páginas


Arturo Bandini é um jovem americano descendente de italianos que mora em Los Angeles num quarto de hotel simples, muito simples, e que não tem um tostão no bolso.

"Uma noite, eu estava sentado na cama do meu quarto de hotel, em Bunker Hill, bem no meio de Los Angeles. Era uma noite importante na minha vida, porque eu precisava tomar uma decisão quanto ao hotel. Ou eu pagava ou eu saía: era o que dizia o bilhete, o bilhete que a senhoria havia colocado debaixo da minha porta. Um grande problema, que merecia atenção aguda. Eu o resolvi apagando a luz e indo para a cama."

O trecho acima entre aspas é o primeiro parágrafo do romance "Pergunte ao pó" (José Olympio, 208 págs.), do escritor americano John Fante (1909-1983). É complicado falar de um livro tão importante e tão vibrante. "Pergunte ao pó" é venerado por milhares de leitores em todo o mundo. Um de seus admiradores mais famosos é o também escritor Charles Bukowski (1920-1994). Ele escreveu, em 1980, um prefácio para o livro, que faria parte das edições publicadas a partir daquele ano. Ele está presente na nova edição que tenho em mãos, a 6ª, e quase me fez chorar. Resolvi então reproduzir algumas linhas escritas por Bukowski:

"Então, um dia, puxei um livro e o abri, e lá estava. Fiquei parado de pé por um momento, lendo. Como um homem que encontrara ouro no lixão da cidade, levei o livro para uma mesa. As linhas rolavam facilmente através da página, havia um fluxo. Cada linha tinha sua própria energia e era seguida por outra como ela. A própria substância de cada linha dava uma forma à página, uma sensação de algo entalhado ali. E aqui, finalmente, estava um homem que não tinha medo da emoção. O humor e a dor entrelaçados a uma soberba simplicidade. O começo daquele livro foi um milagre arrebatador e enorme para mim."

Mas, como eu dizia, Arturo Bandini vive em Los Angeles, para onde se mudou com o objetivo de tornar-se um grande escritor (isso eu não tinha dito).

Em suas andanças pela cidade empoeirada (em várias passagens Bandini diz que tudo está coberto por pó), ele conhece Camilla Lopez, uma bela mexicana, garçonete de um bar. Seu primeiro contato com ela não é lá muito amigável. Ela lhe serve um café, que "era um café muito ruim". E Bandini, que não tem papas na língua, termina por ofender Camilla. E ela a ele. Isso é uma constante em seus encontros. Sim, porque eles se encontram várias vezes. Bandini passa a ir ao bar com alguma freqüência, apenas para ver - e ofender - Camilla.

As ofensas quase sempre são impensadas. Resultado do temperamento tempestuoso do aspirante a escritor. E essas ofensas sempre são motivos de arrependimento. Bandini ama Camilla, e tem raiva disso. E essa raiva é o que o faz destratá-la. Ele pensa ser superior à mexicana. Mas, no fundo, sabe que ambos são iguais; o sobrenome "não-americano", a origem pobre, o preconceito que eles enfrentam. O romance se passa na década de 30. Se ainda hoje existe preconceito em relação aos latino-americanos nos EUA, imagine naquela época? Bandini só foi aceito no hotel depois de muito insistir, e de mostrar um exemplar da revista que havia publicado um conto seu, "O cachorrinho riu". Segundo ele, "uma história que você não consegue parar de ler, e não era sobre um cachorro: uma história inteligente, de gritante poesia." Pode-se ver que a modéstia não é o forte de Arturo Bandini.

Na verdade, Bandini é atormentado pelo fantasma do que ele quer ser, que contrasta com o homem que ele é. Quer ser um escritor rico e famoso, mas tudo o que tem são algumas poucas roupas velhas, uma máquina de escrever e um único conto publicado em uma revista. Ninguém o conhece, ninguém à sua volta se interessa por sua carreira literária. Bandini quer amar muitas mulheres, mas tem medo delas. Tem medo de Camilla, tem medo de Vera Rivken (uma misteriosa mulher com quem tem um "caso"), e até de uma prostituta que lhe oferece seus serviços.

Arturo resolve escrever uma carta ao editor da revista que publicara "O cachorrinho riu", contando seus problemas e suas angústias. Para sua sorte, o editor publica sua carta, retirando apenas a saudação e o final dela, como se fosse um conto.

"Caro sr. Bandini: Com seu consentimento vou tirar a saudação e o final de sua longa carta e publicá-la como um conto em minha revista. Parece-me que o senhor fez um belo trabalho aqui. Acho que ‘As colinas distantes perdidas’ daria um excelente título. Meu cheque está em anexo. Sinceramente, J.C. Hackmuth".

Depois disso é que ele conhece Vera. E ela desaparece da vida de Bandini da mesma forma que apareceu, muito rapidamente. Mas ela é a responsável pela sua grande virada como escritor: Bandini escreve um romance sobre a vida de Vera Rivken. Que é aceito e publicado por Hackmuth. O leitor precisa ter cuidado ao chegar nessa parte do livro. Pois pode correr o risco de comemorar o contrato de Bandini como se estivesse comemorando um título de copa do mundo.

"O milagre aconteceu. Aconteceu assim: eu estava de pé à janela do meu quarto, observando um percevejo que rastejava ao longo do peitoril. Eram três e quinze de uma tarde de quinta-feira. Ouvi baterem à porta. Abri e lá estava ele, um estafeta dos telégrafos. Assinei o recibo, sentei-me na cama e pensei se o vinho finalmente acabara com o coração do Velho. O telegrama dizia: seu livro aceito enviando contrato hoje. Hackmuth. Era tudo. Deixei o papel flutuar até o tapete. Fiquei sentado ali. Então abaixei-me até o chão e comecei a beijar o telegrama. Rastejei para baixo da cama e simplesmente fiquei ali. Não precisava mais da luz do sol. Nem da terra, nem do céu. Simplesmente fiquei ali, feliz de morrer. Nada mais podia acontecer a mim. Minha vida havia terminado."

Mas não, não havia terminado. "Arturo Bandini, o romancista. Com renda própria, feita escrevendo contos", não se sentia completo. Camilla, a mulher que ele tanto desejava, amava outro homem. Um homem estranho, doente e que não a amava. Ou amava? Bandini tenta, a todo custo, trazer Camilla para perto de si. Mas não é fácil conquistar o amor de uma mulher. Ainda mais quando ela ama um outro homem.

Passei muito tempo querendo ler "Pergunte ao pó". A vontade veio quando li um trecho do prefácio de Bukowski. Por uma série de motivos, não pude lê-lo na época. Foi até melhor assim. O romance é impressionante, em todos os sentidos. O jovem que eu era há 4 ou 5 anos talvez não estivesse preparado para ele. Mas agora sei e entendo porque "Pergunte ao pó" é um livro tão querido e tão importante, e continua influenciando e emocionando seus leitores até os dias de hoje.


Rafael Rodrigues - Paralelos

Capote

Sandra Bullock como Harper LeeGwyneth Paltrow como Peggy Lee
Vem aí um novo longa sobre Truman Capote e sua arte de investigação para escrever o best-seller "A sangue frio". Já vimos este filme antes, você deve estar se perguntando. Sim e não... O filme do diretor e roteirista Doug McGrath é uma imitação de "Capote", mas é diferente. "Infamous" é mais entretenimento, mais glamourizado. E temos estrelas hollywoodianas como Sandra Bullock, Sigourney Weaver, Gwyneth Paltrow como a cantora Peggy Lee, o futuro James Bond Daniel Craig e Isabella Rosselini (ainda belíssima).

Isabella RosselliniDaniel Craig como o assassino Perry SmithSegundo a revista "Premiére" de setembro, "Infamous" nos leva a entender muito melhor as motivações e o método de Capote para escrever o livro-reportagem sobre a brutal chacina da família Clutter e dos autores do crime, executados em 1965. Pelo trailer, podemos ver que a vida de Capote antes de iniciar o livro (marco do jornalismo-literário) ocupa bastante tempo da fita. Conhecemos mais as emoções, os medos, as paixões e as loucas amizades do louco Capote antes de mergulhar em "A sangue frio".


Toby Jones, como CapotePhilip Seymour HoffmanAgora cabe a pergunta: como alguém pode superar o Capote do vencedor do Oscar Philip Seymour Hoffman? O ator britânico Toby Jones parece não ir além da performance de Hoffman mas chega muito perto. Elogiados também estão Daniel Craig como o assassino Perry Smith e Sandra Bullock como Harper Lee, amiga de infância do escritor e autora de "O sol é para todos".As críticas iniciais indicam que o fato de você ter assistido a "Capote" não vá desmotivá-lo a ver "Infamous". A questão é: há chances de Toby Jones ser indicado ao Oscar um ano depois de outro ator levar a estatueta por viver o mesmo personagem? Especialistas apontam que sim. E não tenho dúvida de que a Academia dará a mínima para o passado e vá distribuir indicações para elenco, direção, roteiro etc para "Infamous". Alguém duvida?

Bianca Kleinpaul